Tela: "Corpo Solitário" - Ana Maria Pereira de Freitas
O corpo é a mensagem antes da palavra, ou seja, o movimento transcende a palavra, a palavra não dita. O movimento quando isento de razão é a manifestação das memórias inconscientes, é a transcendência dos limites, esse corpo que já não é meu e que é muito mais que eu. A experiência vivida no corpo é de um vazio presença, ao mesmo tempo que você transcende o corpo você tem consciência dele. Você não está fora do espaço, mas é o espaço.
Dos meus questionamentos: "O que pode um corpo no espaço? Terá esse corpo autonomia para modificá-lo? Na edificação ou na natureza o corpo interage buscando novas formas, provocando o que é estático. Um paradoxo? Quem é quem? Será o corpo um espaço ou o espaço um corpo?"
Esses meus questionamentos encontraram ressonância numa frase de Jung: "Todos os efeitos são recíprocos e nenhum elemento age sobre o outro sem que ele próprio seja modificado."
Partindo desse princípio uma síntese que pude fazer é que retratamos as relações humanas e espaciais. Como elas acontecem? Atraímos, provocamos, negamos, amamos, odiamos, nos relacionamos de alguma forma. Quando tudo isso nos escapa, o que nos resta? Além do encontro consigo mesmo, que inevitavelmente acontece e não se pode negar, há a relação com um espaço, interno ou externo, que também modifica, atrai, provoca, ama, odeia, se relaciona e que inexoravelmente nos traga. É preciso uma abertura ampla e uma disposição de entrar em contato com o desconhecido, é necessário a ousadia de afirmar "eu não sei", para que um espaço inteligente de percepção e compreensão do novo possa nascer.
O Homem é este caminho que passa da unidade indiferenciada, através do conflito, através da dualidade, em direção ao infinito e ao sem-limites de si mesmo. O que está entre dois? Vida/morte, sombra/luz, vazio/cheio, bem/mal, certo/errado, amor/ódio, carência/plenitude.
"O objetivo é a saída dos limites nos quais nos encontramos, e isto requer uma escuta de todo corpo, de todo coração, de toda inteligência. É preciso morrer para um estado de nós mesmos com o qual nos identificamos para ter acesso a um estado de consciência mais elevado, aqueles que conseguirem suportar as núpcias dessas dualidades em si mesmo morrerão sem dúvida, mas não morrerão sem terem vivido."
Ana Maria