"O olhar não repousa conformado sobre a paisagem contínua de um espaço inteiramente articulado, mas se enreda nos interstícios de extensões deslizantes, presentificada pela estética dos movimentos. No contato improvisação o olho se defronta constantemente com limites, expansões, acolhimentos, alteridades e subjetividades. Escuta corporal momento a momento.
Assim, trinca e se rompe a superfície lisa, objetiva, memorizada, de movimentos pensados e repetidos à exaustão. O olhar dá lugar a um lusco-fusco de zonas claras e escuras que se apresentam na continuidade dos movimentos improvisados. Movimentos únicos, momentos únicos, embalados na respiração do universo. Expansão e contração, côncavo e convexo, num movimento instável e deslizante. Terapia corporal num campo de significações. Campo do sagrado, do numinoso."
Nietzsche descreve a dança no compasso da experiência, improvisação. Aprender dançar exige um campo de abertura e confiança, assim como viver. O corpo em escuta e a atenção plena... momento a momento... uma re-significação constante que dá espaço ao novo, ao desconhecido até então não experimentado. Uma dádiva, um martírio, um paradoxo. Queremos ter certezas e não dúvidas, resultados e não experiências, sem nem mesmo nos darmos conta que as certezas só podem surgir através das dúvidas e os resultados somente através das experiências... o que nos resta então senão experenciar, viver e se permitir?
TUDO visível, palpável, objetivo e "certo", diz NÃO, só o coração diz SIM, SIM, SIM, um apelo que não parte do racional é o corpo que entende na dança, nessa escuta inclusiva, onde se rompe toda a linearidade e um campo novo é totalmente aberto, como diz Nietzsche, campo do sagrado, do numinoso. No encontro, acontece.
O que é o encontro senão esse PRESENTE?
Ana Maria
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