As origens da tradição da mandala talvez remontem às pinturas rupestres e às inscrições na rocha usadas pelos nossos ancestrais primitivos como fonte de reflexão sobre a energia espiritual. A mandala é uma imagem sagrada que, ao ser focalizada, volta a nossa atenção para o nosso mundo interior e nos leva a entender o seu significado simbólico e absorvê-lo mentalmente. Os símbolos da mandala são dispostos em padrões geométricos ou simétricos, e a imagem resultante serve para expressar diferentes elementos do nosso eu mais profundo, o “eu interior” por trás da nossa personalidade superficial. Enquanto a mente consciente usa palavras para categorizar e definir tanto objetos quanto experiências, a mente inconsciente lida com imagens e símbolos, que geram vários tipos de sensação e percepção. Quando nos sintonizamos com uma mandala, com o tipo certo de concentração, sentimos que a nossa consciência passa por uma mudança. A meditação sobre a mandala nos leva a empreender uma jornada rumo à nossa sabedoria interior, que está em harmonia com o cosmo.
O formato considerado mais eficaz numa mandala é o círculo. Ele é usado em todas as mandalas, ao passo que outros formatos como o quadrado e o triângulo têm uma importância secundária. O círculo representa o ciclo eterno da vida, sem começo nem fim. O espaço no interior do círculo simboliza o domínio interior, um espaço mágico encapsulado e protegido pela periferia. O ponto central, silencioso, a partir do qual se mede a circunferência representa o eu, o eixo espiritual em torno do qual a roda da vida executa o seu perpétuo movimento.
Na natureza o círculo pode ser visto no sol, na lua e nos planetas. Ele é o formato que define frutos como a laranja e a cereja. O círculo nos fita através da íris e da pupila do olho. Também pode ser visto no miolo da flor e na cabeça do cogumelo. A meditação sobre o círculo de uma mandala natural pode nos levar a percepção da totalidade, da harmonia e da paz interior.
Uma variação do círculo é a espiral, em que o movimento circular se assemelha a uma mola. Em vez de convergir para um mesmo ponto, cada seção atinge uma nova fase, lembrando-nos do aprendizado progressivo que nos leva ao verdadeiro conhecimento – o eu espiritual profundo. Em seguida vem o formato oval, fechado como o círculo e símbolo do nascimento e da renovação. Todas essas formas são importantes na natureza. O quadrado, em comparação, simboliza o confinamento; ele transmite a sensação de solidez e segurança que “aprisiona” a energia dos símbolos presentes dentro dele. Todas as formas dentro da mandala, quando usadas como objeto de meditação, ajudam a potencializar cada um dos seus símbolos e a promover a expansão da consciência.
A meditação sobre a mandala requer um processo de relaxamento. De início, a mente pode ser tentada a focalizar apenas os diferentes aspectos da mandala e tentar decifrar o significado que o seu simbolismo tem para você. Quando estiver meditando, no verdadeiro sentido da palavra, é importante que você deixe de lado a “mente simiesca”, que busca incessantemente estímulo e distração, e deixe simplesmente que a mandala cause uma impressão na sua consciência, sem tentar analisá-la. As suas faculdades intelectuais não podem participar da meditação. Tudo o que você tem de fazer é absorver a imagem e deixar que ela cause um impacto sobre a sua consciência, sem que você interfira.
O objetivo da meditação é aquietar a mente. Dessa quietude suscitada pela meditação brota um sentimento de profunda tranqüilidade e harmonia que aos poucos se torna a base das suas experiências exteriores e de auto-expressão.
A natureza da sua mente superficial cotidiana consiste em movimento: pensamentos afloram e se dissipam o tempo todo, saltando de um assunto para outro, de modo a afastá-lo do seu propósito. Quando você medita sobre uma mandala, esses pensamentos periféricos a princípio podem levá-lo a divagar, mas com a prática você consegue deixá-los em segundo plano, sem sentir o impulso de acompanhá-los. Se você se obrigar a parar de pensar, os pensamentos assumirão o controle, mas, se relaxar e apenas permitir que eles se sucedam sem lhes dar atenção, eles acabarão por se aquietar e deixam de ser uma distração. Cada vez que a sua mente tentar se afastar da meditação, basta trazê-la gentilmente de volta para a mandala.
As mandalas são instrumentos poderosos de meditação porque a mente cria as suas associações mais fortes por meio de imagens. Se você pensar numa flor, ou nas ondulações de um lago, ou numa constelação, uma imagem surge instantaneamente na sua tela mental. Por ser intensamente visual e emoldurada por um desenho dinâmico, a mandala, depois de absorvida pela mente, provoca mudanças no seu estado mental, que então filtra os seus sentimentos e os influencia. Isso pode gerar um estado alterado de consciência que traga à tona vislumbres intuitivos e aguce a sua percepção.
As suas reações a qualquer situação ou experiência dependem totalmente da maneira como você vê esse momento em particular. Se você está aborrecido, um pequeno desapontamento pode deixá-lo arrasado. Se está fortalecido e confiante essa mesma decepção pode não parecer tão grande aos seus olhos e ser logo esquecida. A meditação com mandalas ajuda você a perceber as coisas mais claramente e com um sentimento de bem-estar que acaba influenciando o seu modo de encarar os altos e baixos da vida diária.
Texto extraído do livro: "Mandalas da Natureza"
Autor: Lisa Tenzin-Dolma
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