03/11/2010

Viajar

       Completei agora, no mês de outubro, 45 anos, imaginava o que poderia eu me dar de presente, é, PRESENTE, afinal não é todo dia que faço 45 anos. Pensei em várias formas de me presentear, mas esculpindo minhas fontes, procurei adentrar mais profundo e lembrar o que, durante minha existência,  eu dizia ser um sonho e que ainda não tinha realizado. É,  porque os últimos anos de minha vida tem sido grandes realizações, de coisas totalmente novas que jamais tinha sonhado, mas que a permissão foi me dando a oportunidade de realizar. Fui meditando na minha vastidão tentando descobrir o que eu realmente gostaria de fazer para celebrar esse momento, então lembrei que desde que me entendo por gente sempre disse que se existe algum lugar que eu gostaria de conhecer esse lugar é Fernando de Noronha, sempre disse isso, não tenho a menor idéia do porque.

Nada a programar, simplesmente uma passagem de ida para ver o que o universo me reservava, o dinheiro, era pouco? ou suficiente? Nada disso eu sabia, então melhor não marcar datas, só ir com o tempo. O destino, Natal, no Rio Grande do Norte, ali poderia sondar e explorar de perto possibilidades de ir e como ir para a Ilha.
        Cheguei em Pirangi do Norte, já tiinha deixado reservado numa pousada um lugar, só para uma "pseudo" segurança , mas que oferece um certo conforto. Fui muito bem acolhida e a noite o sono não foi profundo, e algo me incomodava, pela manhã fui dar uma volta pela praia e já ali, meu coração foi se abrindo e algo me dizia: "Ana, você ainda não chegou.". Voltei com a decisão de ir embora, para onde? Não sei, mas meu coração dizia: "Vá para Genipabu". Ok, então lá fui eu, no caminho já sentia uma energia diferente, e ao chegar em Genipabu, sem ao menos saber onde e como ficar, eu já sabia que ali era o lugar. Interessante isso, mas comigo é assim mesmo que acontece, nada de explicações, "viver ultrapassa qualquer entendimento", já dizia Clarisse Lispector.

         Mochila nas costas  e informações que me levassem para algum lugar, e assim cheguei em Genipabu. Consegui fechar com um preço bem acessível minha estadia numa pousada para 30 dias, ali seria um ponto de referencia que me daria oportunidade de conhecer o litoral rio Grandense praticamente todo e foi como aconteceu.
            Genipabu me acolheu nos braços, caminhei(muito) pelas praias de mãos dadas com a paz que envolvia meu espírito, andava por toda parte onde o silêncio brincava e as águas profundas cantavam. Esse encontro me fez lembrar minha vastidão, algo que me apurou o olhar, imagens que traduziram minha vacuidade, um vazio-cheio, carregado de significados. Assim vivi esses 30 dias, encontrando na simplicidade do lugar e no cotidiano ordinário... a beleza. Visitei a redondeza, Natal, Pipa, Jacumã, Touros, São Miguel do Gostoso, entre outros.

Durante esse mês, com os contatos, fui pesquisando as possibilidades de ir para Noronha, como ir. E como é natural hoje em dia, tudo convergia para os "pacotes de viagem", que desde o primeiro momento, essa possibilidade, para mim, estava descartada. Comprei as passagens pela internet, consegui um melhor preço, providenciei o pagamento da taxa de preservação, e marquei as datas, ficaria 6 dias na Ilha, tempo suficiente para conhecer, acreditava eu.
           Nunca me ocorreu de sair de um lugar com vontade de ficar, e foi exatamente o que aconteceu quando vim embora de Fernando de Noronha. A minha relação com a ilha foi de "comunhão", um lugar de mim mesma, caminhei muito, por toda a ilha e praias. Constatei que é possível sim, viajarmos com mais economia, desde que saiamos da "rota do turismo". Fui acolhida ao pisar na ilha,  fiquei numa pousada onde negociei um bom preço pelos 6 dias. Caminhar é uma forma de estabelecer relação mais profunda com o lugar, isso me fez ter contato com pessoas da própria ilha, assim como em Genipabu.

Conheci guias, bombeiros, pessoal da polícia, todos que trabalham ou vivem na ilha, isso me facilitou o acesso a tudo, ou seja, não paguei  pelos passeios, fazia sozinha, caminhando. Com os guias que conheci  fiz alguns mergulhos superficiais, que sozinha não teria coragem, apesar de poder fazê-los alugando o material, que eles gentilmente me emprestaram e me guiaram, com outro contato (bombeiro que trabalha na Ilha) conheci Atalaia, a única praia que não se tem acesso, somente com guia, fui com ele sem custo e fiz o mergulho para ver o naufrágio no Porto. A alimentação, que é muito cara, com os contatos consegui um restaurante onde comi bem e muito barato em relação ao que é cobrado na ilha. Mas se entrar na "rota" pagará por todos os passeios, eles vivem dessa exploração, se perguntar se pode fazer sozinho, eles dirão que não e que precisará de um guia... LÓGICO.

          Quanto a beleza do lugar, não existe palavras para expressar, é MARAVILHOSO, é cinematográfico, de uma exuberância impar pelas águas transparentes. O que me encantou foi a energia do lugar, pode-se andar por toda a ilha, trilhas, praias, a qualquer hora, que não tem qualquer perigo, perguntei por cobras, na ilha, não tem. Os animais partilham seus espaços e fazem parte dele, até os tubarões são mansos (rsrsrs), caminhar e nadar com eles(animais) e entre eles faz parte.

E assim me presenteei, consegui realizar um "sonho" e permanecer tempo suficiente (40 dias) para conhecer, explorar e viver o cotidiano do lugar, sem gastar muito (dentro do meu orçamento). Confesso que o universo contribuiu muito, apesar de saber que é meu coração que estava aberto para que essa energia fluisse, eu me permiti receber esse presente.

Ana Maria 

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