Imagem: http://sempreclaricelispector.blogspot.com/
"A vida me fez de vez em quando pertencer, como se fosse para me dar a medida do que eu perco não pertencendo. E então eu soube: pertencer é viver. Experimentei-o com a sede de quem está no deserto e bebe sôfrego os últimos goles de água de um cantil. E depois a sede volta e é no deserto mesmo que caminho." (Clarisse Lispector)
Minhas reflexões partem desse "desejo de pertencer", que acredito seja algo inerente no humano em nós. Não pertencer nos dá a sensação de dissolução, e isso é assustador ao humano, então pertencemos.
Mas não pertencer nos leva também a uma outra realidade, a de não necessidade. Isso nos aproxima do Amor agapé, que segundo Jean Yves, "como o Amor (agapé) é o único Deus que não é um ídolo, neste caso só podemos "nos apropriar" dele, "possuí-lo", na medida que o damos. Nesse nível de consciência, amor e liberdade estão entrelaçados, já não há dualidade, o homem está aberto em todas as dimensões de seu ser(...)". É um amor que não nos pertence, mas que transcende e habita e é carregado de harmonia.
Porque temos tanto medo de assumir nossa condição no mundo? Somos sós e morreremos sós. Não nos ensinaram a amar essa condição em nós, a nutrí-la e vivê-la como uma condição de abertura, de doação e devoção.
Acredito ser esse o grande desafio do viver, desaprender o que nos ensinaram para ir ao encontro de uma nova realidade, reaprendermos o amor, nos tornarmos livres diante de nós mesmos e do nosso destino, conscientes dos nossos atos e de nossa responsabilidade.
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