Os quatro elementos são uma construção familiar. Pouco sabemos da sua história, da sua composição química ou dos seus devaneios (como diria Bachelard) que inspiraram a artistas, filósofos e cientistas, mas Água, Ar, Terra e Fogo são velhos companheiros. Os quatro elementos integram o nosso imaginário, atravessam as nossas percepções mais diversas. Desde Empédocles e Aristóteles que estruturam as nossas tentativas de explicação da natureza. Cada um dos elementos pode encarnar o que simboliza. Ou seja, o Fogo não representar apenas alguma coisa mas ser ele próprio a coisa simbolizada: Deus, paixão, guerra, pureza, o humano. Para Levi Strauss o pensamento mítico é concreto, um pensamento onde as imagens são coisas e onde as coisas são idéias, “onde as palavras dão existência ou morte às coisas”.
Cada um dos elementos pode remeter a um conceito, ou seja, para um juízo ou raciocínio que estabelece uma diferença entre as nossas vivências subjetivas e a estrutura objetiva do que é analisado.
Hoje sabemos que o pensamento mítico, que pertence ao campo do pensamento simbólico e da linguagem simbólica, coexiste com o pensamento e a linguagem conceituais. Na verdade, a imaginação social transformará em mito aquilo que o pensamento conceitual elabora nas ciências e na filosofia. A percepção e a simbolização da natureza(ou do ambiente) e seus elementos é embebida pelos ritmos acelerados da modernização. Em cada instante e lugar, as comunidades filtram uma visão, que funde passado presente e futuro (isto é, sonho). Pensar os quatro elementos hoje, significa pois, ainda, pensar o homem.
Ar, Água, Terra e Fogo são sensações, afetos, raízes, experiências estéticas, paradigmas científicos, memória cultural, modelos sociais, estruturas econômicas, ideologias, que se fundem em múltiplas percepções e imagens, ou que produzem, por “deformação” das imagens iniciais, algo que suplanta todas as realidades, o imaginário.
Para compreender as ameaças à biosfera, é fundamental que as ciências sociais estudem esse imaginário. Ele está na gênese das crenças, atitudes e comportamentos dos seres humanos face ao Meio Físico. Ele condiciona o olhar e a ação das/nas sociedades face às questões ambientais.
Maria R. Girardier
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